quarta-feira, 13 de junho de 2012

A Lenda da Lua feiticeira e a sua filha – Moçambique

A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé* pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:- Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja… Além disso, ela não sabe pilar.” O monhé respondeu: “Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja… Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo. A lua, então, respondeu: “Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.” O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles ábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta. Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar. As irmãs censuraram-na: “Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?… Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.”. E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar. Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse. A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando: “Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar…” Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando… até desaparecer. Ao verem aquele estranho fenómeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho. Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha. A lua, muito irritada, disse: “A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!” “Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?” A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse: “Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar… Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim.” O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando: “Chama o javali, a zebra, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha”. O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse. O porco, enquanto moía, cantou: “Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!”. Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia: “Não te conheço!”. O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo.. Aproximou-se em seguida a zebra e, enquanto moía, cantou: “Eu sou a zebra e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!”. Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia: “Não te conheço!” A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta: “Não te conheço!” Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou: “Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!”. A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa: “Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!” E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa. Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina. Então, a lua disse: “Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer”. Então o cágado levantou a voz dizendo: “Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida”. E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua. Da ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do mundo…
Era uma vez um país governado por um rei sábio que vivia feliz com a esposa e a sua formosa filha. Também os súbditos do rei viviam felizes e tinham animais e terras para cultivar. Os dias corriam felizes no pequeno país e num dia de má memória apareceu um Dragão com asas de morcego que tinha a pele mais dura que pedra. O Dragão enfiou o pescoço nas muralhas e quando os súbditos do Rei o viram abandonaram as ruas tropeçando uns nos outros e foram logo para as suas casas. Alguns soldados foram avisar o Rei que perguntou ao Dragão o que queria. - Eu podia comer os teus súbditos todos ao pequeno almoço e deixar outros para o jantar ou deitar fogo à tua cidade. – disse o Dragão. O Rei disse ao Dragão: – Se tu poupares as nossas vidas não te faltará de comer. Depois o Dragão propôs que tinham de lhe entregar todos os dias quatro vacas, seis ovelhas e duas galinhas. E dito isto, deu meia volta e foi para a montanha fazendo tremer a terra com cada passo que dava. A partir daí, toda a gente passava o dia fechada em casa, ninguém se atrevia a sair para trabalhar nos campos, mas todos os dias os pastores levavam à montanha onde vivia o Dragão o que ele tinha pedido. Entretanto, os galinheiros os estábulos e os currais ficaram vazios, o Rei mandou os seus soldados a todas as povoações para arranjar mais animais. O Rei pensou que podia alimentar o Dragão com as sementes e legumes. A reacção do Dragão ao ver os legumes foi ainda pior do que o Rei temia e o monarca disse ao Dragão que tinha comido todo o gado. Então o Dragão exigiu que quando chegasse a Princesa queria uma rapariga. O Rei não quis comunicar com os seus súbditos o que o Dragão lhe pediu e chamou os mais velhos da cidade para reunirem e tentarem arranjar uma solução mas um homem de barba branca disse que, até chegar a Primavera, tinham tempo de arranjar a solução. Passou o tempo rapidamente e chegou o dia de entregar a rapariga ao Dragão. Nenhuma família estava disposta a entregar uma das suas filhas ao Dragão quando ele se apresentou à porta da cidade. Então a princesa apareceu na porta do castelo vestida de branco e sem dar tempo a ninguém reagir correu para se entregar ao Dragão. O Rei e a Rainha estavam a chorar e, de repente, ouviu-se um galope de um cavalo vindo nas nuvens. A cidade inteira olhou para o céu e viram um cavaleiro de armadura e dirigia-se em direcção à cidade num belo cavalo branco. – É São Jorge!- gritaram todos. O Dragão ficou surpreendido e contrariado. Não gostou de ver o cavaleiro e abrindo a sua grande boca lançou um jacto de fogo aos pés de São Jorge mas ele fugiu fazendo o cavalo recuar. Com a sua lança em risco foi contra o terrível Dragão e matou-o. A feira deixou de existir e, naquele país, já nada tinham a recear. O São Jorge voltou para o céu e toda a gente voltou a ser feliz.

A Lenda de Oia/Iansã – Afro-Brasileira

Senhora dos ventos e das tempestades, dona do raio, esposa principal de Xangô, dona das almas dos mortos (eguns). Seu dia é quarta-feira, usa roupa marrom escuro e vermelha e às vezes branca. O colar de seus filhos é de contas marrom escuro. Seu brado: Eparrei! Lenda: Ogum pronto, numa caçada, para abater um imponente búfalo, percebe que de repente a pele do animal se abre de dentro sai a bela Oyá! Linda, ricamente vestida e cheia de ornamentos que valorizavam sua beleza e sensualidade. Ela dobrou a pele do búfalo e o escondeu num formigueiro, dirigindo-se para a cidade. Ogum a seguiu e completamente dominado pela sua beleza, propôs-lhe casamento, o que não foi aceito. Ogum, então voltou, pegou a pele no esconderijo e a guardou para si, voltando para a cidade. Quando Oyá, descobriu o roubo da pele, voltou a cidade e encontrando Ogum a sua espera, acusou-o, exigiu o que era seu e Ogum nada, fingia-se de tonto, não admitindo nada. Oyá percebeu que teria de render-se e aceitar as propostas de Ogum, se quisesse seus pertences de volta. Mas impôs-lhe três condições: - Ninguém nunca poderia dizer-lhe diretamente que era um animal; - Ninguém nunca poderia usar cascas de dendê para fazer fogo; e - Ninguém nunca poderia rodar um pilão pelo chão da casa. Ogum aceitou as condições e se casaram. Isso porém desagradou as demais mulheres de Ogum que passaram a sentir ciúmes da bela Oyá. Ousadamente, após o nono filho de Oyá, e ainda sendo a preferida de Ogum, as demais mulheres resolveram tomar uma atitude. Embriagaram Ogum com vinho de palma, e conseguiram que ele lhes contasse o segredo de Iansã. Elas então acusaram-na de ser um animal e até lhes disseram onde estavam suas pele, chifres e cascos. Oyá fingiu que não era com ela, mas quando sozinha, correu até o lugar indicado e achou seus pertences. Vestiu-os e eles se ajustaram perfeitamente, retomou a força do animal e com raiva atacou as outras mulheres e as matou. Ela pretendia voltar para a floresta, mas seus filhos a chamavam de volta. Ela então pegou seus chifres e os deu a eles, dizendo-lhes que se algum dia dela precisassem, que os tocasse e ela surgiria para defendê-los.