quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Orixás da Nação Ijexá






Origens
No período da escravidão, os escravistas eram 
interessados exclusivamente na força de trabalho do africano,
 mas nos porões dos navios negreiros, além de músculos,
 vinham ideias, sentimentos, tradições, mentalidades,
 hábitos alimentares, rituais, canções, crenças religiosas,
 formas de ver a vida, e o que é mais incrível,
 o africano levava tudo dentro de sua alma, 
pois não lhe era permitido carregar seus pertences.

Da Nigéria e do Benin vieram as principais raízes dos cultos afro-brasileiros, 

o Candomblé da Bahia, o Xangô de Pernambuco,
 o Tambor de Mina do Maranhão e o Batuque do Rio Grande do Sul, 
os quais possuem fortes vínculos de origem com as crenças
 religiosas dos povos de língua iorubá e fon.

Em Ouida, onde ficava um dos grandes portos de embarque de escravos,

 os negros percorriam um caminho de cinco quilômetros da cidade até o porto. 
Neste percurso todo escravo que era embarcado, 
eram obrigados a dar voltas em torno de uma árvore. A árvore do esquecimento.

Os escravos homens deviam dar nove voltas em torno dela.

 As mulheres sete voltas. Depois disso supunha-se que os escravos
 perdiam a memória e esqueciam seu passado, 
suas origens e sua identidade cultural, para se tornarem seres
 sem nenhuma vontade de reagir ou se rebelar.

Mas, o escravo não esquecia nada,

 porque quando chegou aqui recriou suas divindades. 
Conseguiu refazer tudo aquilo que ficou para traz.
 Hoje, nos diversos estados brasileiros se tem verdadeiras ilhas de África,
 pois se mantém muito vivas as tradições religiosas iorubá e jêje. 
Devido à multiplicidade nas origens,
 a estruturação e a prática dos rituais tomaram formas diferentes em cada região do país.

No Batuque do Rio Grande do Sul, também,

 os religiosos pertencem a nações diversas, portanto, 
possuem tradições diferentes. Todavia,
 a influência da nação Ijexá é grande no conjunto dos rituais africanos
 executados nos terreiros de origem Jêje, Oyó e Cabinda.




Orixás
Orixás, regentes do mundo terrestre com várias definições a seu respeito,
 mas em princípio os Orixás são divindades
 intermediárias entre o Deus Supremo, Olorum, e o mundo terrestre.
 Foram encarregados de administrar a criação e a continuidade da vida na terra.

Os Orixás se comunicam com os seres humanos 

através de vistosos e complexos rituais. 
As estórias de cada um são conhecidas através das rezas (cânticos),
 suas comidas, no ritmo de seus toques, 
nas suas cores e seu domínio em determinadas forças da natureza.

Os Orixás estão subordinados a um 

Deus Supremo chamado Olorum ou Olodumare,
 mas não há nenhum culto ou altar dirigido diretamente à ele, 
o contato é feito através dos Orixás, seus intermediários.

Nossa tradição guarda o axé (força) de cada Orixá em um Okutá (pedra) 

que é colocada em uma vasilha junto a outras “ferramentas”,
 que ficam sob a guarda do babalorixá ou Yalorixá;
 mas a força maior está solta na natureza, apenas parte dela,
 simbolicamente fica no Okutá.

Nas cerimônias para convocar os Orixás, tradicionalmente,

 é através de cantos acompanhados com o toque dos tambores, 
com ritmos identificados para cada divindade.

As cerimônias são diversas, são ofertados presentes, 

comidas diferentes para cada um e sacrifícios que envolvem 
animais de quatro pés e aves; 
tirando a parte dos Orixás toda carne é consumida pelos participantes
 e membros da comunidade. 
Aos orixás rogam-se proteção, saúde, paz, em fim,
 pedidos específicos às necessidades de cada um em particular.

Os Orixás intercedem de acordo com o domínio que cada um

 exerce sua influência no aspecto da vida, como por exemplo, 
Bará para abrir os caminhos,
 Xangô para justiça,
 Oxum para fertilidade e assim por diante.

É magnífico poder escrever sobre a religião africana, 

mas há rituais muito particulares, nos quais alguns praticantes, 
não estão se preocupando em guardar o segredo, 
alguns estão colocando em público, 
rituais que os antigos levariam anos, 
até passarem para aqueles que mostravam sigilo absoluto, 
e que guardariam para confidenciar apenas aos seguidores de merecimento. 
Todas as religiões importantes do mundo doutrinam e ensinam,
 mas os maiores segredos um mestre só passa para outro mestre.

Existem aspectos cerimoniais que regulam o

 relacionamento dos serem humanos com as divindades.


 As regras são muitas, numa espécie de quebra cabeças, 
com começo, meio e fim, montado com interpretações simbólicas
 dos mitos que envolvem os orixás, 
e constituem uma grande rede interligada de deveres e direitos,
 obrigações e possibilidades, 
extremamente complexa e cheia de nuanças,
 inclusive possibilitando diversas variações
 que só quem é do meio pode saber e executar.
 A forma organizada na África deve ser perpetuada.
 Não temos o direito de mudar algo estabelecido a séculos,
 mesmo que queiram rotular nossos rituais de primitivos e ultrapassados,
 temos que procurar manter a força espiritual que envolve nossa religião, 
esta poderosa raiz deixada por nossos ancestrais.

Um caminho que nos faz ter contato com os orixás 

é através da incorporação; 
este é o processo pelo qual a entidade se manifesta
 em seu filho(a) que passou pelos mais diversos rituais de iniciação. 
Contudo há casos de incorporação de não iniciados.
 É possível uma pessoa estar assistindo um ritual pela primeira vez e
 se identificar com as forças espirituais energéticas referentes 
ao seu orixá, 
e ter esta manifestação espontânea.

Na maior parte, a manifestação dos orixás acontece em dias de festas.

 No batuque, nestas ocasiões, podemos falar; pedir auxílio,
 consultar, abraçar e ser abraçado por eles;
 em fim pode-se ter um contato direto com os orixás. 
Uma característica específica que diferencia o batuque
 das demais religiões afro-brasileiras
 é o fato do iniciado não saber, em hipótese alguma,
 que é incorporado pelo orixá.
 Esta peculiaridade provém de longínquas aldeias do interior da África,
 e faz parte dos rituais desde o início da estruturação da religião
 no Estado do Rio Grande do Sul a mais de duzentos anos.

Outro caminho que nos leva aos Orixás são os Búzios. 

A cerimônia do jogo dos Búzios é o instrumento usado
 no dia a dia para consulta aos Orixás.
 Através dele podemos receber orientações, conselhos e advertências.

Os Orixás cultuados no Batuque do Rio Grande do Sul são:

 Bará, Ogum, Oyá ou Iansã, Xangô, Ibêji, Odé, 
Otim, Obá, Ossãe, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá.

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